27 junho 2025

A reestruturação de uma empresa deve ser um processo estratégico e contínuo

Entrevista a Célio Rijo, Business Senior Director da Claranet Portugal, no Jornal Económico

Para se manterem competitivas, muitas empresas têm necessidade de reestruturação. Nesta entrevista, Célio Rijo, Business Senior Director da Claranet Portugal revela-nos os erros mais comuns e explica porque é tão importante contar com a assessoria de especialistas.

Muitas empresas nacionais, sobretudo PMEs, veem a necessidade de se reestruturarem. A que se deve esta necessidade?

A necessidade de reestruturação resulta da combinação de vários fatores: alterações nos comportamentos dos clientes, crescente pressão competitiva, mudanças regulatórias e, naturalmente, a evolução acelerada do contexto económico. Para se manterem relevantes e sustentáveis, as empresas precisam rever modelos de negócio, processos internos e capacidades organizacionais.

Quais são os primeiros sintomas dessa necessidade?

Os primeiros sinais manifestam-se tipicamente na dificuldade em acompanhar a dinâmica do mercado, ineficiências operacionais persistentes, quebra de margens, perda de clientes ou dificuldade em atrair talento. A falta de agilidade para responder a novas oportunidades ou desafios é um alerta claro de que é necessário repensar a organização.

A seu ver, os líderes tomam as medidas necessárias no timing favorável ou tentam adiar o processo?

Ainda é frequente que os líderes adiem este tipo de transformação, muitas vezes por receio do impacto nas operações ou por falta de recursos. No entanto, quem atua proativamente, com uma visão clara e integrada, consegue preparar melhor a organização para o futuro e reforçar a sua competitividade.

Porque devem as empresas contar com um especialista externo para ajudar a orientar a reestruturação?

Um especialista externo traz uma visão independente, experiência acumulada em diferentes contextos e metodologias que ajudam a acelerar o processo de transformação. Além disso, contribui para desafiar paradigmas internos, identificar oportunidades e mitigar riscos, garantindo que a reestruturação seja mais consistente e alinhada com as melhores práticas.

Quais são os erros mais comuns (que tornam esta colaboração realmente necessária)?

Entre os erros mais frequentes estão a subavaliação da complexidade do processo, a falta de um plano estruturado, decisões baseadas apenas na visão interna da empresa e resistência à mudança. Sem apoio especializado, é comum que a reestruturação fique limitada a ajustes superficiais, sem gerar o impacto transformador que a situação exige.

Como atua a Claranet Portugal num processo destes? Pode dar exemplos, ou comentar algum caso?

A Claranet atua como parceiro estratégico, ajudando as empresas a redesenhar processos, modernizar infraestruturas e acelerar a adoção de novas capacidades digitais. Cada abordagem é ajustada ao contexto e objetivos de negócio. Já apoiámos, por exemplo, PMEs industriais na transição para modelos mais ágeis e orientados por dados, ou empresas de serviços na automação de processos e melhoria da experiência do cliente.

O que é mais desafiante - para a empresa, para as lideranças e para a Claranet Portugal - num processo de reestruturação?

Para a empresa, o maior desafio é alinhar pessoas, processos e tecnologia num mesmo sentido de mudança. Para as lideranças, é garantir clareza de visão, capacidade de execução e gestão da resistência interna. Para a Claranet Portugal, o desafio está em equilibrar inovação com pragmatismo, respeitando a cultura da empresa e assegurando que a transformação gera resultados tangíveis e sustentáveis.

Por outro lado, o que é mais importante?

O mais importante é que a reestruturação seja encarada como um processo estratégico e contínuo, com forte compromisso da liderança e envolvimento das equipas. É fundamental garantir que as mudanças estejam alinhadas com os objetivos de negócio e que criem bases sólidas para um crescimento sustentável. A colaboração transparente entre todos os intervenientes, incluindo parceiros externos, é também um fator crítico de sucesso.

A digitalização tem aqui um papel importante. Até que ponto?

A digitalização é hoje um pilar fundamental em qualquer processo de reestruturação. Não se trata apenas de adotar novas tecnologias, mas de repensar modelos de negócio, processos e formas de trabalhar. Uma abordagem bem orientada permite ganhos de eficiência, maior agilidade, melhor experiência do cliente e capacidade de adaptação contínua — aspetos essenciais para a competitividade no contexto atual.

O medo da tecnologia, basicamente entre colaboradores, tem fundamento? Esta pode torná-los dispensáveis?

É natural que exista algum receio, sobretudo quando a tecnologia é percebida como uma ameaça aos postos de trabalho. Mas, na maioria dos casos, o seu papel é libertar as pessoas de tarefas repetitivas, permitindo que se foquem em atividades de maior valor. O verdadeiro risco não está na tecnologia em si, mas em não preparar e envolver as equipas no processo de mudança. Quando bem gerido, o processo de digitalização é uma oportunidade para requalificar e valorizar o capital humano.

Como vê o futuro das PMEs portuguesas? A resiliência que, no geral, vêm mostrando é suficiente?

As PMEs portuguesas têm demonstrado grande resiliência, capacidade de adaptação e criatividade, o que é um ativo importante. No entanto, o contexto económico e tecnológico exige uma evolução contínua. Resiliência por si só não chega — é fundamental investir em inovação, competências e modelos de gestão mais ágeis. O futuro será favorável para as empresas que combinarem essa capacidade de adaptação com uma visão estratégica clara.

Entrevista publicada originalmente in Jornal Económico