"A inovação é uma espécie de longa maratona" - Prémio Nacional de Inovação
1 - Como encara a Claranet o estado da inovação em Portugal?
António Miguel Ferreira - Com o mesmo espírito do dia em que criámos a empresa, em 1995. Inovação é o sangue das empresas. Sem inovação perde-se a vitalidade, perde-se a energia, é tudo uma questão de tempo.
Olhando para dentro, tentamos manter esse espírito sempre presente na nossa cultura, adotando medidas de gestão de inovação para potenciar a tomada de risco e o nascimento de novas ideias, que vão melhorar os nossos processos ou permitir a criação de novos serviços. Apesar do enorme crescimento que tivemos nos últimos anos, não podemos deixar de manter e fomentar uma cultura de inovação, pois é o que alimentará o nosso futuro. As empresas portuguesas ainda são, em geral, muito conservadoras e pouco ambiciosas. Claro que existem já muitas exceções, mas não podemos esquecer o panorama nacional como um todo.
Em Portugal, nos últimos 10-15 anos tem havido mais consciência coletiva para a necessidade de as empresas apostarem na inovação. Não somos maiores em quase nada, quando comparados com outros mercados ou empresas, em contexto europeu ou mundial. Mas podemos ser melhores em algumas coisas e só inovando encontramos essas avenidas de crescimento e diferenciação. Algumas Câmaras Municipais, os fundos privados, as associações e as empresas têm aumentado a dinâmica de inovação e criado diversos ecossistemas em Portugal. Temos um papel a desempenhar e temos feito um bom caminho. Mas há ainda muito por fazer. Podemos ter a ambição de ser um pequeno país, onde a inovação, a ambição e a capacidade de tomar riscos se combinam para criar um círculo virtuoso, que se autoalimenta.
No que respeita à inovação, somos uma espécie de start-up, que teve o seu sucesso mas tem alguns desafios, antes de entrar numa fase de scale-up.
2 - As empresas portuguesas estão bem posicionadas no contexto competitivo europeu no que diz respeito à inovação?
Sérgio Silvestre - De acordo com o relatório do European Innovation Scoreboard, publicado este ano, o nosso país não fica bem posicionado quando olhamos para a inovação de forma abrangente. Avaliando variáveis como o número de doutorados, publicações científicas, a penetração da banda larga, o investimento em R&D do setor público e das empresas, as PME com inovações de produto ou que colaboram com outras, o registo de patentes e as exportações de produtos de elevada tecnologia, entre muitos outros indicadores, o nosso país surge como inovador moderado e bastante afastado dos países europeus considerados fortemente inovadores ou líderes nesta área (Suíça, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Holanda e Bélgica).
É um recuo face a relatórios anteriores, onde Portugal já esteve entre os países “fortemente inovadores”.
O mesmo relatório destaca que o apoio do Governo para a Inovação, Desenvolvimento e Investigação aumentou no período entre 2016 e 2023. Efetivamente, as candidaturas ao SIFIDE aumentaram 25% este ano (cerca de 4400 candidaturas) e a despesa de I&D das empresas tem vindo a aumentar nos últimos anos (superando já o 1% do PIB), enquanto a despesa de I&D do Estado e Ensino Superior tem estagnado em torno dos 0,6% do PIB.
3 - O que podemos/devemos melhorar?
Sérgio Silvestre - Precisamos efetivamente de melhorar o nosso posicionamento e os nossos resultados em Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI).
Como fazê-lo? Das conclusões do mesmo relatório destacaria dois pontos a melhorar: por um lado, recuperar o atraso que temos na formação superior e na colaboração entre PME inovadoras e outras empresas. Aqui, atrevo-me a generalizar que precisamos de mais colaboração entre todas as empresas e instituições e entre os cidadãos, se quisermos potenciar a inovação e outros aspetos da vida económica e social.
Acreditamos que iniciativas como a do Prémio Nacional de Inovação possam contribuir para aumentar a colaboração e desenvolver o ecossistema de inovação no nosso país, dando visibilidade a mais empresas e instituições que se destaquem nesta área.
Fazemos o nosso papel, no âmbito da iniciativa privada. O Estado deve também contribuir, criando as condições fiscais e legais para incentivar a tomada de risco por parte das entidades privadas. E isso passa não só, mas também, pela criação de um enquadramento fiscal e jurídico mais competitivo. Para empresas e pessoas. Os investidores – nacionais e internacionais – estão dispostos a arriscar e a investir se dispuserem de condições minimamente competitivas, face aos outros países e, sobretudo, de estabilidade a longo prazo.
4 - Que papel espera desempenhar a Claranet no futuro da inovação em Portugal?
António Miguel Ferreira - A inovação é incremental e é uma espécie de longa maratona. Todos os dias temos de fazer uma parte do caminho. Esperamos dar o nosso contributo incluindo a inovação na nossa cultura, de forma permanente. E promovendo projetos, como o PNI, que deem palco à inovação que se faz um pouco por todo o lado. Contribuir e apresentar os bons exemplos de inovação é o mais eficaz.
5 - De que forma promovem a cultura da inovação na organização?
Sérgio Silvestre - A Claranet está no setor tecnológico, cujos pilares assentam na inovação. E na sua história a Claranet Portugal tem sido pioneira em vários temas, desde o início da própria Internet comercial em Portugal, a modelos de negócio, até ao nascimento da Cloud no nosso país. Sentimos, contudo, a necessidade de seguir uma abordagem mais estruturada e sistemática da gestão da Inovação e, no início de 2022, criámos a Claranet Labs.
É, sobretudo, uma iniciativa que permite a todos os colaboradores apresentarem novas ideias que possamos experimentar e testar; procurando depois financiá-las, principalmente com recursos internos. Queremos que essas ideias se transformem em projetos, em serviços e em receitas futuras, ou numa empresa mais eficiente.
Também investimos na construção de um novo escritório onde vamos procurar criar alguns laboratórios nas nossas áreas core: Cloud, Security, Data & AI, Applications e Workplace.
Temos a sorte de trabalhar com as melhores tecnologias de parceiros e queremos ter espaços para não só as testarmos e potenciarmos, como para potenciar novos produtos, serviços e processos para a Claranet.
6 - De que forma medem o impacto da vossa inovação dentro da empresa?
Sérgio Silvestre - O impacto da inovação nesta fase é sobretudo focado em novos (ou melhorados) serviços ou processos. Gerimos os projetos como se estivéssemos a gerir os projetos dos clientes, mas obviamente tendo objetivos específicos e maior espaço para falha, porque estamos tipicamente a fazer algo menos conhecido por nós e pelo mercado.
7 - Como promovem uma colaboração interna para melhorar a inovação?
Sérgio Silvestre - Procuramos e valorizamos projetos que juntem equipas diferentes da nossa organização. É nessa interceção e nessa colaboração que sentimos que temos mais valor para criar. Diria que inovação e colaboração interna se autoalimentam.
Damos visibilidade interna às várias ideias que surgem e às que evoluem para algo mais, mas também à iniciativa daqueles que tiveram a ousadia de propor ideias, mesmo que não se transformem em novos serviços. Arriscar, testar e ousar são os comportamentos que tentamos incentivar. Alguns vão mais longe, outros não, mas é esse o espírito que fomenta a inovação.
8 - Como avaliam o risco da inovação na Claranet?
Sérgio Silvestre - Não seguimos uma abordagem sistemática de avaliação do risco. Seguimos uma abordagem por projeto e, como tal, do ponto de vista do investimento, sabemos qual o nível de compromisso e risco que podemos aceitar.
9 – Como abordam a falha como um processo natural da inovação?
Sérgio Silvestre - Diria que a pergunta dá a resposta. Falhar é natural e humano. Em situações em que estamos a tentar chegar a algo novo, ou substancialmente melhorado face ao que fazemos e ao que existe no mercado, ainda mais.
O fundamental é tentarmos falhar nas áreas em que aquilo que aprendemos - ao falhar - será útil para os projetos seguintes (seja em projetos de inovação internos, ou em projetos dos nossos clientes).
10 - Que papel deve ter a transformação digital no processo de inovação das organizações? Podem dar exemplos de como a Claranet ajudou empresas nacionais nesta área?
António Miguel Ferreira - Um exemplo mais atual é o de estarmos há vários meses a testar soluções de Generative AI (como o ChatGPT, da OpenAI, e o Copilot, da Microsoft) para traduzirmos em serviços a prestar aos nossos clientes, de forma que eles consigam tirar partido desta tecnologia recente nas suas organizações.
11 - Que balanço fazem da primeira edição do PNI?
António Miguel Ferreira - Recebemos mais de 100 candidaturas e tivemos uma grande participação, quer nos vários eventos que realizámos, quer em toda a interação que sentimos existir nas várias empresas que participaram, discutiram ou assistiram.
A visibilidade do PNI foi grande, especialmente para uma primeira edição. É, portanto, um balanço muito positivo e que nos dá vontade que querer continuar e aumentar o nosso investimento nesta iniciativa.
12 - Que novidades se podem esperar na próxima edição do PNI?
Sérgio Silvestre - Esperamos sobretudo que o nível de notoriedade do PNI aumente ainda mais e, dessa forma, possamos chegar a mais empresas e entidades - e que estas se sintam motivadas a apresentar as suas candidaturas!
Com esse objetivo vamos ter mais prémios de segmento e orientados por setor de atividade (Agricultura e Indústria; Turismo e Imobiliário; Energia, Utilities e Infraestrutura; Retalho e E-commerce; Telecomunicações, Media e Technology; Saúde; Banca, Seguros e Serviços; Educação; Saúde; Setor Público; 3º Setor / Entidades sem fins lucrativos).
Pedimos a todos que nos ajudem neste passa-palavra. Visitem Prémio Nacional de Inovação e partilhem. Iremos manter, no essencial, os prémios com foco na Tecnologia (Best ML & AI; Best Workplace / Transformação do posto de trabalho; Best Web 3.0; Best Sustainable Tech; Best Cybersecurity; Best Software & Application Development) e o Prémio Personalidade.
Iremos também reforçar a colaboração com mais organizações. Estamos muito honrados em ter, este ano, o apoio institucional da Agência Nacional de Inovação, que se junta à COTEC, já presente na edição de 2023. Estes parceiros, a NovaSBE como Knowledge Partner, os co-organizadores BPI, Claranet e Jornal de Negócios e ainda os membros dos dois painéis de jurados estão a dar um forte sinal de compromisso com a inovação no nosso país e de abertura ao trabalho em “equipa”.
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