A nova arquitetura digital dos media na era IA
Entrevista a Nuno Almeida e Silva, Executive Director da Claranet Portugal, no Jornal Económico
A aceleração tecnológica está a reconfigurar o setor dos media, desde a criação de conteúdos até à forma como chegam ao público e são monetizados. A combinação de Inteligência Artificial (IA) e cloud tornou os processos mais rápidos, flexíveis e eficientes, permitindo responder a uma audiência que exige informação imediata. Mas será que existem riscos? Nuno Almeida e Silva, Executive Director da Claranet Portugal, explica tudo em entrevista.
A IA e a computação na cloud estão a revolucionar a forma como os media produzem e disponibilizam conteúdos. Que transformações considera mais marcantes e de que modo estão a redefinir o modelo de negócio do setor?
A combinação de IA e computação em cloud está a transformar todo o ciclo de vida do conteúdo, da conceção à distribuição e à medição. A personalização
em grande escala tornou-se central, com algoritmos que ajustam recomendações, formatos e momentos de publicação em tempo real. Isto abriu caminho a modelos de monetização mais sustentáveis, assentes na fidelização e na subscrição. Ao mesmo tempo, a automação editorial acelera tarefas como criação de resumos, tradução e legendagem, libertando tempo para investigação e storytelling. Do ponto de vista do negócio, a análise avançada de dados reduz desperdícios, melhora a segmentação publicitária e sustenta modelos híbridos de receita. A cloud, por sua vez, garante escalabilidade para picos de tráfego e permite lançar novas experiências digitais com custos mais controlados.
Vivemos numa era em que o público espera informação imediata, em múltiplos formatos e plataformas. Como a tecnologia pode apoiar esta lógica de conteúdo instantâneo, garantindo qualidade, estabilidade e segurança?
A resposta começa na infraestrutura. Arquiteturas cloud-native permitem publicar em múltiplos canais em segundos e escalar automaticamente sempre que existam picos de acesso. A isto juntam-se pipelines de produção com IA que aceleram tarefas críticas. A estabilidade resulta da observabilidade ao longo de todo o processo, com monitorização em tempo real, métricas de desempenho e alertas proativos que identificam anomalias antes de impactarem o leitor. Plataformas integradas asseguram a consistência de tom e padrões de qualidade em texto, vídeo, áudio e formatos interativos, reduzindo erros. O resultado? Conteúdo instantâneo, com rigor e segurança.
Como garantir que a personalização de conteúdos, potenciada pela tecnologia, reforça a relação com o público sem perder rigor e confiança?
Quando bem desenhada, a personalização aproxima o leitor dos temas e formatos que lhe interessam. O ponto-chave é a governação: garantir que os modelos operam com regras transparentes, diversidade de fontes e limites editoriais claros. A confiança preserva-se com a verificação de factos (humana e assistida por IA), com uma curadoria editorial que mantém a pluralidade e o contexto, e a transparência sobre os critérios de recomendação e as fontes de financiamento.
Com os media sob crescente pressão digital, a cibersegurança tornou-se crítica. Que ameaças estão a ganhar terreno nesta área específica e como está a Claranet Portugal a ajudar a travá-las?
O risco já não é teórico. Ataques como ransomware, extorsão e DDoS (ataques de negação de serviço) podem paralisar operações, enquanto deepfakes e contas impostoras corroem a confiança. Se somarmos a complexidade das cadeias de fornecimento e o trabalho distribuído, a superfície de ataque aumenta consideravelmente.
A Claranet Portugal responde com uma abordagem de defesa em profundidade, através de Centros de Operações de Segurança (SOC) com deteção e resposta geridas 24x7, testes de penetração e exercícios de Red/Purple Team para antecipar falhas. Implementa a gestão de identidades e acessos segundo o princípio do menor privilégio e o hardening de aplicações e ambientes cloud. Complementa com programas de formação para equipas editoriais e técnicas, com o objetivo de proteger o ativo mais sensível: a reputação.
De que forma a tecnologia pode apoiar modelos de monetização mais eficazes e diversificados?
A tecnologia permite construir portefólios de receita adaptados a segmentos e contextos. A personalização e a analítica (analytics) suportam ofertas de subscrição com níveis (tiers), pacotes temáticos (bundles) e benefícios de membro. Na publicidade, a programática orientada por resultados e os formatos nativos de alta qualidade otimizam custos e reduzem o desperdício. Além disso, a cloud e as plataformas de publicação facilitam o lançamento rápido de produtos com margens incrementais.
Como a Claranet Portugal se posiciona como parceiro do setor dos media?
Somos um parceiro end-to-end, com foco em três pilares: modernização tecnológica, segurança e aceleração de produto. Ao nível da modernização, ajudamos a migrar e operar workloads na cloud, garantindo desempenho e custos controlados. Em termos de segurança, oferecemos SOC/MDR, testes contínuos e gestão de identidades para proteger redações, CRM de assinantes e canais de conteúdo. Ao nível da aceleração de produto, apoiamos a adoção de IA e analytics, encurtando o time-to-market de novos formatos e funcionalidades.
Quais são, na sua perspetiva, as principais prioridades de investimento tecnológico que os grupos de media devem considerar nos próximos anos?
Em primeiro lugar, uma cloud escalável e resiliente, para garantir velocidade, disponibilidade e eficiência de custos multicanal. Em segundo lugar, IA e analytics para personalização, otimização de formatos e proteção de receita, aumentando a eficiência publicitária. Em terceiro, cibersegurança de ponta a ponta, com monitorização contínua, gestão de identidades e planos de resposta a incidentes. Por fim, automação e novos formatos (como o vídeo interativo), que aceleram a produção e geram novas fontes de receita.
Entrevista publicada originalmente in Jornal Económico
